sábado, 9 de abril de 2011

Concerto de Aranjuez


O Concerto de Aranjuez representa, na verdade, a vitória do espírito sobre o corpo. Interpretado pela primeira vez em 1940, em Madrid, pelo violonista Regino Sains de La Manza, o Concerto fora composto no ano anterior, após a Guerra Civil, quando Rodrigo retornara de Paris.
O título da obra confirma o apego do compositor às idéias de um nacionalismo espanhol, movimento que o aproximaria de Manuel de Falla. Aranjuez é uma cidade na Nova Castela, ao sul de Madrid, conhecida pela imponência de seu castelo, erguido no século XVIII.




A obra, repleta de temas populares da Andaluzia, surpreendeu em sua estréia. Ninguém jamais ousara colocar um violão como instrumento solista, diante de uma orquestra. Uma das maiores dificuldades na execução resulta do fato de o mesmo ter sido escrito ao piano. As escalas crescendo e decrescendo, as mudanças de tonalidade, os raqueados, as modulações e a cadência que exige, obrigam o intérprete a um virtuosismo sem igual.

Quando Rodrigo voltou da França por ter perdido sua bolsa de estudos com a eclosão da Guerra Civil Espanhola, voltou a seu país com o fim da guerra, em 1939, levando na bagagem o manuscrito do Concerto de Aranjuez. A obra, segundo o próprio compositor uma visita "aos tempos passados, à beleza dos jardins de Aranjuez, suas fontes, árvores e pássaros", representou um dos grandes impulsos que levaram o violão, freqüentemente considerado um instrumento "folclórico", de volta à cena musical.
Embora avisando que não se tratava de música programática, Rodrigo tentou inspirar os intérpretes do Concerto: "Eu queria indicar uma época específica, o final do século 18 e o início do 19, as cortes de Carlos IV e Fernando VII, uma atmosfera de majas, toureiros, e sons espanhóis regressos da América."
O Concerto teve até hoje mais de 50 gravações - e, curiosamente, a mais vendida é aquela do violonista flamenco Paco de Lucía.

 Foi mais ouvido que o popularíssimo Amor Brujo, de Manuel de Falla. No ano de 1998, ficou atrás apenas de "Maria", do cantor pop Rick Martin, e do mega-sucesso "Macarena" nas paradas espanholas. E foi até levado para a Lua, em 1969, para inspirar o astronauta americano Neil Armstrong.
O primeiro movimento, allegro con spirito, é todo composto sobre um fandango. Em vez do tutti inicial da orquestra, o que se ouve são as cordas em rasqueado, juntamente com os baixos em pianíssimos, que introduzem o tema para o violão. Ao longo do movimento na forma sonata, a orquestra é clara e colorida, com o violão contrastando continuamente com os ricos timbres de outros instrumentos solo - violoncelo, clarinete, oboé e flauta.
O segundo movimento é o mais conhecido. O adagio é lírico, cheio de temas populares, baseados nas melodias cantadas na Semana Santa. Ouve-se um belo diálogo entre o corne inglês e o violão, chegando ao final com uma longa cadência e a orquestra atacando em cheio.
O concerto encerra em allegro gentile, explorando um único tema, estabelecido primeiro pelo violão e que é repetido várias vezes com orquestração e tonalidades variadas. Confuso, o Concerto termina mesmo romântico, em pianíssimo.





sexta-feira, 8 de abril de 2011

O Grande Cinema!

Um dos filmes mais belos que eu já vi. O Baile de Ettore Scola mostra o decorrer do tempo da França a partir da década de 30 até os anos 80 em uma salão de dança. O Baile não tem dialógos (e não consegue ser chato).






“O cinema não pode mudar o mundo nem a realidade, mas pode ajudar a refletir”.
Discípulo de Vittorio De Sica, o cineasta italiano Ettore Scola nasceu em 1931 em Trevico na Itália. Começou sua carreira no cinema como roteirista e foi ator, produtor e assistente de direção. Filho de médico, estudou direito na faculdade em Roma, mas nunca teve a intenção de seguir a carreira. Em pouco tempo, sentiu o fascínio do jornalismo, trabalhando como diagramador de um jornal humorístico. Acabou indo para o rádio onde fazia scripts para comédias, alguns para um programa com Alberto Sordi, então extremamente popular. Em pouco tempo, Scola também já era um roteirista conceituado no cinema. Porém, ele demorou para optar pela direção. Com quase 40 filmes no currículo, Scola descende de um grupo politizado, socialista (no real sentido da palavra) e bem humorado que transformou o cinema italiano depois da II guerra mundial.







Dono de uma caligrafia privilegiada na construção de diálogos, Ettore Scola busca transmitir em suas películas uma análise real da vida, algo comparável a Robert Altman, com um pouco menos de sarcasmo. Outra característica em suas obras é a visão infantil que costuma encerrar suas películas, um toque do gênio criativo.

Por que '' The Big Apple"?



Big Apple é um dos mais famosos apelidos de Nova York.

No início dos anos 20, "apple" (maçã) era uma palavra usada em relação a corridas de cavalos em New York City. "Apple" seriam os prêmios concedidos nas corridas -- como eram corridas importantes, os prêmios eram substanciais. Um escritor do New York Morning Telegraph, John Fitzgerald,






se referiu às corridas de Nova York como "Around the Big Apple". Acredita-se que Fitzgeral tenha ouvido essa expressão de jockeys e treinadores de New Orleans que aspiravam em participar das corridas de Nova York, referindo-se a "Big Apple".


No final dos anos 20 e início dos anos 30, os músicos de jazz começaram a referir a Nova York como "The Big Apple". Um ditado antigo do show business dizia "There are many apples on the tree, but only one Big Apple" (Há muitas maçãs na árvore, mas somente uma grande maçã). Como New York City era o lugar preferido para se apresentar, era chamada "The Big Apple".
Em 1971 uma campanha para aumentar o turismo em Nova York adotou "The Big Apple" como uma expressão oficial para a cidade. A campanha mostrava maçãs vermelhas num esforço de atrair visitantes para New York. A esperança era de que as maçãs servissem como um símbolo brilhante e saudável de New York, em contraste com a crença comum de que a cidade era escura e perigosa.
Desde então, Nova York tem sido oficialmente "The Big Apple".

Em reconhecimento a Fitzgerald, a esquina da 54th & Broadway, onde ele viveu por 30 anos, foi renomeada como "Big Apple Corner" em 1997.



quinta-feira, 7 de abril de 2011

Francisco de Paula Ramos de Azevedo

Francisco de Paula Ramos de Azevedo (São Paulo SP 1851 - Guarujá SP 1928). Engenheiro, arquiteto, administrador, empreendedor e professor. Após trabalhar na Companhia Paulista de Vias Férreas, forma-se engenheiro-arquiteto, em 1878, na École Speciale du Génie Civil et des Arts et Manufactures da Universidade de Gand, na Bélgica. O curso, ministrado por tratadistas franceses e belgas, é alinhado ao historicismo das escolas politécnicas européias, em que predominam o estilo neoclássico e o ecletismo. Ramos de Azevedo gradua-se com excelentes recomendações e retorna ao Brasil no ano seguinte, para estabelecer seu primeiro escritório profissional, em Campinas, São Paulo. Sua primeira obra importante é a conclusão da Igreja Matriz de Campinas, ocasião em que conhece o visconde de Indaiatuba, que, em 1886, o convida para construir em São Paulo os edifícios da Tesouraria da Fazenda, da Secretaria da Agricultura e da Secretaria de Polícia, no pátio do Colégio, conhecidos como "Secretarias de Estado". Com essa obra, estabelece na capital paulista o maior escritório de projetos do século XIX e início do século XX: a F. P. Ramos de Azevedo e Cia.

ela grande habilidade para lidar com o poder público e os interesses privados, ocupa muitos cargos de comando e responsabilidade. Como exemplo, é diretor da Companhia Mogyana de Estradas de Ferro, do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo - Laosp e da Escola Politécnica de São Paulo - Poli, conselheiro da Caixa Econômica de São Paulo e da Comissão Administrativa do Theatro Municipal, e presidente do Instituto de Engenharia e da Comissão de Obras da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Seu Escritório Técnico de Projeto e Construção, situado na rua Boa Vista, torna-se famoso não apenas pelas obras que realiza, mas também pelo numeroso grupo de engenheiros e arquitetos que, em conjunto, trabalham sob sua direção, tais como Victor Dubugras (1868 - 1933), Domiziano Rossi (1865 - 1920), Anhaia Mello (1891 - 1974), Ricardo Severo (1869 - 1940) e Arnaldo Dumont Villares (1888 - 1965). Os dois últimos, após a morte de Ramos de Azevedo, em 1928, criam a empresa Escritório Técnico Ramos de Azevedo, Severo & Villares S. A.
Em vários projetos de hospitais, asilos, quartéis, escolas, institutos, matadouros, edifícios públicos e residências, Ramos de Azevedo demonstra uma combinação segura entre o recurso a um repertório estilístico beaux arts e a consideração e exploração da racionalidade construtiva, a serviço da utilidade e da funcionalidade. Destacam-se como suas principais obras, na cidade de São Paulo, os prédios das "Secretarias de Estado", no pátio do Colégio, 1886/1896; o quartel da polícia, 1888/1891, no bairro da Luz; a Escola Normal, 1890/1894, e o jardim-de-infância, 1896, na praça da República; a Escola Prudente de Moraes, 1893/1895; a Escola Politécnica, 1895/1897; o Asilo do Juqueri, 1895/1898; o Liceu de Artes e Ofícios, 1897/1900 (hoje Pinacoteca do Estado de São Paulo - Pesp); o Portal do Cemitério da Consolação, 1902; o Theatro Municipal de São Paulo, 1903/1911; o Instituto Pasteur, 1903, e o Grupo Escolar Rodrigues Alves, 1919, na avenida Paulista; o Palácio das Indústrias, 1917/1924, no parque D. Pedro II; e a agência central dos Correios, no vale do Anhangabaú, 1922.

 Em 1919 é cogitado para prefeito de São Paulo. Em 1921 é festejado pelos seus 70 anos. Em maio de 1924 é inaugurado o Palácio das Indústrias. Em 1925 assume a presidência da Caixa Econômica do Estado de São Paulo, cargo que ocupa até falecer.
Sem dúvida um grande brasileiro!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Santos Dumont "Pioneiro sempre"


Pode-se dizer que a era automobilística nasceu no brasil no dia 25 de Novembro de 1891, quando desembarcou no porto de Santos, do navio Portugal, o primeiro carro importado, adquirido pelo jovem inventor do avião, Alberto Santos Dumont, que mais tarde seria conhecido como o Pai da Aviação.

O carro era um reluzente Peugeot, com motor Daimler a gasolina, de 3,5 cv e dois cilindros em V, conhecido pelos franceses como voiturette, por ser muito parecida com uma charrete.

Seu proprietário o comprara por 6.200 francos, em Valentigney, cidade perto de Paris, e o trouxe diretamente para Santos. Mais tarde, o veículo foi levado a São Paulo, permanecendo na residência de Santos Dumont.

Esse Peugeot foi o primeiro carro a chegar no Brasil, asseguram os historiadores. Dessa maneira, a cidade teve a primazia de ver circular por suas ruas o primeiro automóvel do País, como confirmou a Câmara Municipal, um século depois.

Henrique, irmão de Alberto, era o primogênito da família. Por ter nome idêntico ao pai, alguns autores fazem confusão e citam o pai de Santos Dumont como o possuidor do primeiro carro paulistano. Mas era o filho, mesmo, porque em 1901 o chefe da família já havia falecido.

Eis as razões do peticionário:

“...o suplicante sendo o primeiro introdutor desse sistema de veículo na cidade, o fez com sacrifício de seus interesses e mais para dotar a nossa cidade com esse exemplar de veículo “automobile”; porquanto após qualquer excursão, por mais curtas que sejam, são necessários dispendiosos reparos no veículo devido à má adaptação de nosso calçamento pelo qual são prejudicados sempre os pneus das rodas. Além disso o suplicante apenas tem feito raras excursões, a título de experiência, e ainda não conseguiu utilizar de seu carro “automobile” para uso normal, assim como um outro proprietário de um “automobile” que existe aqui também não o conseguiu”.

Pronto, a baixaria foi instituída e o Prefeito cassou a licença e a placa de Santos-Dumont (essa placa era a famosa P-1, que ficou - depois - com o Conde Francisco Matarazzo). A primeira carta de habilitação foi dada em 1904 a Menotti Falchi, proprietário da então fábrica de chocolates Falchi - nesta época já tinham uma enormidade de carros: 83









sábado, 2 de abril de 2011

o coração das trevas


horror! O horror!" Estas palavras, as últimas do personagem Kurtz, têm confundido e fascinado os leitores desde a primeira publicação de O Coração das Trevas (Heart of Darkness), de Joseph Conrad, em 1902.

Numa narrativa baseada na idéia de contraste (luz versus escuridão, branco versus negro, civilizado versus selvagem, etc.) e interpenetração de opostos (por exemplo, sempre que aparece um elemento branco ele está cercado de negro, e vice-versa), o livro é ao mesmo tempo provocante e perturbador, atraindo e incomodando em doses iguais. Nascido em 1857 na Polônia, Józef Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski viria a ser conhecido como Joseph Conrad, um dos maiores escritores da língua inglesa, autor do clássico Lord Jim, entre muitos outros. E é o mesmo narrador de Lord Jim, Charlie Marlow, espécie de alterego de Conrad, que nos conta (por figura interposta, já que existe uma história dentro da história) sua estranha aventura em O Coração das Trevas. Na verdade, o próprio Conrad fez uma viagem muito semelhante à de Marlow, subindo o Rio Congo num barco a vapor.

Marlow faz a viagem em busca de Kurtz, um comerciante de marfim que se teria deixado influenciar demasiadamente pela magia do continente negro e sucumbido aos instintos selvagens. A história pessoal de Kurtz simboliza a trajetória do europeu civilizado em contato com o primitivo continente africano. No início, ele representa toda a cultura do homem branco, sendo ao mesmo tempo poeta, músico, político, comerciante, um polivalente homem da renascença. Ao final de sua trajetória, porém, já cometeu os mais diversos crimes contra a sociedade civil, que para ele já não faz sentido, e acaba por permitir um crime contra a religião cristã, o de ser adorarado ele mesmo como um deus.

Marlow e Kurtz são quase como uma só pessoa, duas faces do mesmo ser separadas por um mundo de possibilidades. Marlow é o que Kurtz poderia ter sido, Kurtz é o que Marlow poderia vir a ser. Em sua viagem rio acima, enquanto Kurtz não passa de uma figura mítica formulada em descrições divergentes de outros personagens, Marlow se afasta, aos poucos, física e mentalmente, do mundo dos brancos, retratado como brutal, e adentra a escuridão da selva, símbolo da realidade e da verdade. Mas também esta simbologia é ambígua, e por vezes não sabemos (nem nós leitores, nem o próprio Marlow) de que lado está a virtude ou onde reside a verdadeira escuridão.

O Coração das Trevas já foi interpretado de diversas formas. Numa leitura historicista, pode ser considerado uma dura crítica ao colonialismo. Ou, numa visão psicológica, pode ser encarado como uma jornada pesadelo adentro, ou mesmo um esbarrão com a própria loucura, da qual Marlow escapa mas não Kurtz. Ou, para o antropólogo ou sociólogo, o livro pode ser um debate sobre o contraste entre civilização e selvageria. Ou ainda pode ser visto como uma reflexão moral sobre o bem e o mal, que parecem ser os pontos centrais da trama. Como tão poucas páginas podem conter tanta coisa?

Um aspecto algumas vezes enervante de O Coração das Trevas (mas talvez seja exatamente o que gera seu encanto) é a forma como Conrad deixa o próprio leitor na escuridão. As trevas são sempre mencionadas mas nunca definidas, o horror balbuciado por Kurtz nunca chega a ser explicado, tudo é calculado para que o mistério se perpetue. Ser explícito, como o próprio Conrad escreveu anos mais tarde, é fatal para o fascínio de qualquer obra artística, roubando a sugestividade e destruindo a ilusão.